sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Desabafo Hospitais Públicos

Na verdade já faz um tempinho(um mês?) desde que isso aconteceu, mas de jeito nenhum sai da minha cabeça. Para mim foi simplesmente... Chocante.

Há um tempo atrás estava com muitas dores. Minha barriga doía, minha cabeça doía, sentia tonturas, estava indisposta para tudo e por aí vai. Apesar de tudo isso, achei que era bobeira e esperei uma semana, duas semanas e não fui no médico. É. Duas semanas com dores que não paravam e ainda assim não fui no médico. Pontos para mim.

Até que um dia, quando deu uns 16 dias de dores, eu estava indo pra faculdade e a dor foi tanta e taaanta que eu praticamente desmaiei no trolebus. Percebi que tinha passado tempo demais e que eu desmaiaria novamente então dei meia volta para ir no hospital.

Aqui devo dizer que tenho convênio desde que me dou por gente e nunca precisei usar o meio público de saúde. Se eu estava doente, ia para o Pronto Socorro(um em específico aqui perto de casa) e lá recebia atendimentos e tudo o mais que era necessário; até mesmo internada no próprio hospital eu era (e olha só: quarto individual). Então tenho que dizer que sempre tive essa comodidade.

Pois bem, voltando para a história. Algo me dizia que eu não aguentaria chegar no Pronto Socorro Particular que era um pouquinho longe de onde eu estava, e por isso fui para um hospital público. O de Diadema. Falo mesmo.

Botei os pés lá dentro e já senti a diferença. O lugar parecia abandonado. As paredes sujas, os bancos de espera mais sujos ainda (alguns ocupados por moradores de rua que dormiam lá) e a recepção... Bem, eu não recebi a melhor "boas-vindas". Não culpo a mulher; sei lá, ela pode ter ficado a noite inteira ali, pode ter visto de tudo. Não é obrigação dela me receber com um sorriso enorme. Por isso não liguei.

Como eu nunca tinha ido lá, ela me fez perguntas, me pediu endereço, RG, etc, etc, etc e me deu uma fichinha. Entrei no hospital.

Aqui veio a parte que me chocou. Tinha dezenas, não meia dúzia de pessoas, DEZENAS de pessoas no corredor. Algumas em macas, outras nos bancos e eu vi até mesmo uma ou outra(tenho quase certeza; não me julguem, eu estava mal) em um colchonete no chão. A maioria recebendo medicamento na veia. Como se não bastasse, conforme eu andava até o fim do corredor onde eu deveria colocar a fichinha, via nas salas (talvez quartos) mais um monte de gente enroladas em cobertores no chão. Alguns sentados, outros deitados e todos dormindo no chão. Sem nenhuma estrutura. Lá. No chão.

Nem preciso dizer sobre as tosses, gemidos e até gritos que ouvi enquanto passava pelo corredor. Parecia cena de filme de terror. De verdade.

Coloquei minha fichinha e na frente dela tinha mais umas cinco. Essas pessoas estavam nos poucos bancos que tinha lá. O pior de tudo é que os consultórios, além de estarem "sujos", estavam vazios. Não tinha um enfermeiro por ali que pudesse informar qualquer coisa, nem médico. Na verdade, eu só descobri onde deveria colocar a ficha porque um senhor que estava MUITO mal (estava tossindo muito e sangrando) me disse onde eu deveria colocar a ficha.

Agora deixe-me dizer uma coisa. Sim, eu tenho todas as comodidades do mundo e não vou negar isso, mas isso nunca me impediu de saber como alguns serviços públicos funcionam. Não sou nenhuma patricinha que não enxerga além do próprio nariz. Eu assisto tv, eu leio jornais, eu pesquiso na internet. Modesta parte, me considero bem informada sobre o mundo além da minha bolha. É, eu já sabia que o serviço público de saúde não era dos melhores (toda hora passa denúncias na tv sobre as condições precárias, oras!), mas eu NUNCA imaginaria que era tão ruim assim. As denúncias, as reportagens, os depoimentos não dizem metade do horror que é o lugar.

É difícil de explicar e detalhar. É o tipo de coisa que só se compreende quando você tá lá, vendo. Sentindo o que está acontecendo. É... triste.

Voltando a história, esperei quase meia hora sem nenhum sinal de enfermeira ou médico ou atendente que pudesse dizer qualquer coisa. Os outros cinco pacientes também. Não aguentei ficar lá, levantei e saí para ir para o hospital que sempre ia.

Ouvir as pessoas, os gemidos e os gritos de dor, ver a condição do local e no íntimo saber que todas elas levariam uma benzetacil na bunda e seriam mandadas de volta pra casa, era simplesmente insuportável. Eu realmente precisei sair de lá. Tremendo e chorando.

O pior de tudo é que sei que vai se passar anos e mais anos sem que ninguém resolva nada. O lugar vai continuar sendo um lixo, as pessoas que não tem as mesmas condições que eu continuará indo ali na esperança de resolverem seus problemas e o mundo continuará girando como se estivesse tudo bem.

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